sábado, 22 de dezembro de 2012

As Aventuras de Pi

As Aventuras de Pi é poesia em imagens, em história, em música. Um show de fotografias a cada sequência. 
Um filme profundo, para se assistir de alma aberta. Para acreditar e duvidar. Para abalar e sedimentar a fé... ou as fés.
Não digo que vale a pena ver. Digo que Tem que ser visto.


sexta-feira, 16 de março de 2012

Sobre “AQUILO QUE MEU OLHAR GUARDOU PARA VOCÊ” do Grupo Magiluth

Quando cheguei no Recife, há mais de um ano, fui logo vasculhar o teatro que faziam por aqui. Sabia de antemão que a cultura pernambucana se mostrava rica e produtiva na música e na dança, mas se “quem procura acha”, quem acha se surpreende. Existe o risco, claro. Como prefiro sempre corrê-lo (afinal, o que é a vida senão um eterno risco?), compartilho aqui uma surpresa boa.

No decorrer desse período, enquanto futucava aqui e ali entre palcos giratórios, janeiros, festivais locais, espaços alternativos e agendas culturais, descobri preciosidades no teatro pernambucano. E ainda era 2011 e recordo-me vagamente de ter visto, num certo dia, um cartaz modesto na Fundação Joaquim Nabuco que anunciava a peça “O Canto de Gregório”, de um certo Grupo Magiluth. O tempo passou e acabei não indo ouvir o tal do canto, mas hoje decidi ir ver “o que tinham guardado para mim”.

“AQUILO QUE MEU OLHAR GUARDOU PARA VOCÊ” é a nova peça do Grupo Magiluth e estreou no 18º Janeiro de Grandes Espetáculos, neste ano, e pelos comentários fortuitos, ouvidos por aí no boca-a-boca – o grupo parece preferir esse tipo de divulgação – o negócio era dos bons. Fui verificar. E sim, o negócio é dos melhores!

Saí da peça com um sentimento reconfortante: é possível um novo teatro! É possível um teatro contemporâneo de qualidade, realizado por gente jovem, e jovens bons de serviço!

O trabalho do grupo oferece um festival de qualidade: boa dramaturgia, ótima dinâmica entre os atores, uma disposição sincera para interação com o público e excelentes atuações, aliás, uma verdade cênica emocionante que impossibilita indiferença. Não há como passar ileso - sem enxergar a si próprio ou um pedaço de sua história - por alguma das cenas propostas pelo grupo. O discurso de abandono que Giordano exala no início do espetáculo é de uma visceralidade tão latente, tão pertinente ao nosso interior clamoroso por companhia e temeroso de despedidas que faz-nos sentir usurpado: aquele texto já foi meu! Afinal, quem nunca teve que dar adeus a uma história e chegou a desejar que tudo o que lembrasse o passado em conjunto sumisse de uma vez por todas? O cheiro da fumaça do cigarro na cama poderia incomodar. E se esquecesse o carregador do celular aqui? Não! Leva embora tudo, até aquele meu shorts que você usava mais que eu! Leva, é presente. ...é passado.

A peça aborda os mais variados temas, utilizando como fio mediador fotos de diferentes temáticas refletidas ao longo do cenário através de um celular, todas tiradas na cidade do Recife. Cada foto deve ter tido sua história particular no processo de criação do trabalho, motivando o desenvolvimento dos temas propostos. A colagem final é digna de aplauso em pé.

Uma cena plasticamente encantadora é quando, em black-out, começam a surgir várias piscadelas aleatórias, produzidas com um rápido estalar em isqueiros. Por si só aquilo comunica muito: pode representar as diversas fagulhas de pensamento que ali são fervilhantes entre os espectadores; mas pode representar outra coisa e você assistindo terá milhões de ideias, e emoções. E toco aqui no que parece ser o principal objetivo do grupo: emocionar, fazer sentir. E sentir pode doer – como um beliscão – ou tocar como o vento – como um beijo... O importante é se deixar sentir. Sentir o mundo. Sentir o outro. Sentir o momento.

Também há espaço para protesto político: Magiluth de repente se irrita ao ver a Prefeitura do Recife indenizar com mesquinhos cinco mil reais a população do Pina - para que evacuem a ocupação dispondo o terreno para futuras instalações da Via Mangue, quando na sede do governo há carros blindados sendo alugados por duzentos mil reais. Logo em seguida, o próprio grupo se pergunta o porquê do protesto, colocando em xeque nossa posição aqui, nesse universo dúbio: para quê tudo isso se no final todos vamos morrer? Ficar feliz com uma família correndo no parque no fim de semana, levando o labrador pra passear, fazendo carinha de feliz na propaganda do banco? Que objetivo tem tudo isso? Que objetivo tem o viver?

A resposta parece vir numa carta deixada a um pai anônimo: ele vai ser avô. E o filho promete: este será um pai melhor que o destinatário da carta o foi para ele. No final da carta demonstra a vontade de que seu filho seja um pai ainda melhor para seu neto. E nesse desejo de sucessão de melhorias, o Grupo Magiluth parece acreditar na evolução. Não na esperaça, porque a esperança é triste, ficando sempre a esperar. O melhor é realizar, evoluir de fato. Que a vida, então, seja longa para essa turma de novos fazedores do teatro, e que tenham muitos novos olhares a nos mostrar. E mostrar a mais gente, porque são muitos os que precisam ter contato com essa nova forma de fazer teatro. O grupo precisa ampliar sua cadeia de divulgação para complementar a propaganda boca-a-boca, pleiteando alcançar mais pessoas e mais lugares. Afinal, a tradição de manter e inovar o bom teatro precisa ser continuada. Viva o Grupo Magiluth! Viva o teatro de qualidade!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Ação voluntária na Casa N.S. da Consolação.


A Maratona Voluntários Bradesco é uma campanha incentivada pelo banco para que seus funcionários ajam na comunidade, praticando o que pode ser de maior valor para o homem: lembrar do seu próximo. Entusiasmado com a ideia, juntei-me com colegas do trabalho e juntos, no dia 19 de Outubro, colocamos em prática a Ação Gincana do Mundo Limpo, na ONG Casa Nossa Senhora da Consolação. É uma casa que cuida de 20 crianças, de 03 a 06 anos, de cujas famílias habitam regiões marginalizadas e desprovidas de infraestrutura social e familiar.

A intenção principal da Ação foi compartilhar com as crianças ideias que podemos colocar em prática no dia-a-dia para conservar nosso meio ambiente, cuidar melhor do nosso planeta. Surpreendeu-me como as crianças já se demonstram bastante conscientes quanto ao impacto de suas atitudes para com nossa casa planeta Terra. Fez-me reforçar a crença de um futuro melhor!


Comemorando o mês das crianças, foi possível presenteá-las com balas, chocolates e brinquedos, graças à colaboração caridosa dos demais funcionários com os quais convivo na agência.


O mais vivo da ação foi o sentimento de gratidão ao receber um "muito obrigado, tio" das crianças, ao final do trabalho. Já ficou combinado a próxima visita, junto do Papai Noel.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

em Simplismente Monólogos



Há poucos meses conheci, em Recife, o Espaço Muda. Apaixonei-me pelo lugar. Aquele ambiente pequeno mas aconchegante, com um bistrô servindo pratos deliciosos, o pessoal estiloso da cena alternativa circulando por ali, um espaço com exposições de artistas plásticos já conceituados ou emergentes na área. Ah! O brechó pra incrementarmos o guarda-roupa super-style. E claro, o chamariz pricipal: o galpão onde aconteciam os espetáculos. Teatros, bandas, leituras dramatizadas. Muita coisa interessante podia-se assistir ali, sentado em deliciosas poltronas, sofás, sobre almofadas ou pufes, ou no chão. O ambiente era aconchegante, apaixonante. Mal sabia eu que ali faria boas amizades no meio cultural da cidade. Conheci Jorge Féo. Em seguida lá já estava eu toda semana, em um curso com o jovem mestre, incrementando meu repertório de ator e aprendendo com sua arte de atuar na simplicidade.


Lá tinham pessoas que se interessavam profissionalmente pelo teatro, e também iniciantes nessa arte mágica. Ficamos todos amigos e o resultado de nosso primeiro trabalho juntos, bem delineado e afinado pelo diretor Jorge Féo, foi apresentado na última quinta-feira, 16. O exercício chamou-se "Simplismente Monólogos" e trouxe textos do escritor mineiro Anderson Aníbal, em seu livro "Alguns Leões Falam".




















Aqui deixo minhas doces lembranças desse dia em que celebramos mais que um exercício de palco, mas um brinde ás grandes amizades que fazemos no caminho da vida. Obrigado Milena, Maiana, Gian, Dani, Brenda, Jay e Jorge pela parceria e carinho no trabalho. E claro, obrigado Aníbal pelos belos textos que escrevestes e que nos servira de mote para essa reunião tão gratificante.




Com o texto "O Sonho de André", pude conhecer e emprestar-me para esse personagem tão carinhoso que é o sonhador André. Ele tem um cachorro chamado Marcelo, que sempre quis ser um leão. Um dia André sonha que Marcelo era, de verdade, um leão.



André tem outros dois grandes amigos: Clara e Rocha. Eles cresceram juntos e desde crianças brincavam muito, na praia. Um dia inventaram até uma máquina que fazia as pessoas pararem de sentir dor. Hoje André vive longe dos amigos, mas faz uma viagem para ir reencontrá-los. Clara e Rocha vão se casar. E André, sempre sonhador, preocupa-se com o futuro... o que será do amanhã?...


Pareço um bocado com André... Também sinto enorme saudade de um casal de amigos. E do cachorro do meus amigos, Cipó...


Abaixo, um pouco mais do André.




* Agradecimento especial a Brenda Lígia e Marcelo Pinheiro pelas fotos.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sobre Párias – somos vários dessa espécie



Na antiga sociedade indiana os indivíduos considerados de castas inferiores eram chamados párias, ou dalits. Eram seres desmerecidos do crédito social, desafortunados da mínima dignidade e reconhecimento. Poderíamos fazer diversos contrapontos com nossa sociedade atual e reconhecer muitos párias que convivem em nosso cotidiano. Ou pior - e por que não melhor – reconhecermos nós mesmos como um, talvez...


Na nova peça da Cia Anjos de Teatro o ator Arion Medeiros nos traz o personagem Nioukhine, de “Sobre os Males do Fumo” de Tchecov e Jorge Féo e Thiago França trazem à cena os enigmáticos personagens de Strindberg em “O Pária”.


A montagem dos três atores e dois autores traz unidade no contexto. O desdobramento dos artistas em atuar e dirigir uns aos outros deve ter seus esforços reconhecidos: concluíram um trabalho uniforme. Foi coerente a proposta de unir dois grandes textos e autores num espetáculo de nome Párias, denunciando ou relembrando a nós, espectadores, que sim, somos vários dessa espécie.

Sobre o trabalho dos atores


Conhecer um ator antes de vê-lo atuar faz-nos criar expectativas com relação a seu trabalho. Conheci Arion Medeiros em minhas andanças pelo Espaço Muda; cruzava com ele ora saindo das aulas do Féo, ora pelo bistrô ou hall de entrada e se trocamos meia dúzia de palavras foram muitas, quase sempre oi`s e tchau`s quase mudos, ou só ditos por gestos. E vendo ele um homem calado, semblante austero, talvez eu esperasse daquele corpo, embora franzino, uma voz grave, forte. Quando o vi entrando em cena no monólogo de Tchecov, confesso que fiquei surpreso ao ouvir sua voz, no palco, pela primeira vez. Era um timbre fino, agudo. Então pensei que ele falava em falsete ou criara aquela voz e, por um breve momento, julguei mal tal escolha de voz para o personagem, mas deixei-me levar pela magia que Arion conquistava em cena e logo reconheci: como aquela fragilidade sonora compunha perfeitamente o homem inseguro ali tão bem representado! Minhas suposições sobre o trabalho de ator de Arion Medeiros foram confirmadas: em grande ator em cena.


No segundo quadro do espetáculo Jorge Féo e Thiago França encantam pela perfeita sintonia no palco. Jorge traz um personagem tímido no início da cena, como pede o proposto. Á medida que vai crescendo o diálogo de seu papel, é sutil e preciso ao delatar, com o tempo, que aquele homem tem um vulcão dentro de si que a qualquer momento pode entrar em erupção. Thiago França entra em cena marcando forte presença, ciente das atitudes e convicto de suas palavras – seu personagem necessita desse vigor e um ator inseguro não o faria tão bem. Thiago exibe boa técnica de memorização, mas embora o texto componha um personagem que tenha inteligência hábil e diálogo vivo, a cadência de tempo que o ator usa para jogar o texto em certos momentos antecipa o tempo real da personagem, comprometendo a verdade cênica desses breves momentos.

Sobre cenário e figurino e trilha sonora


O cenário foi composto com esmero: tinha os objetos cênicos corretos sem cair em ambientações demasiadamente carregadas. A busca pelo simples porém eficiente - que permeia o teatro de Jorge Féo – estava presente ali. O cenário denunciava seriedade com uma grande mesa à espera do gabaritado palestrante (Arion na primeira cena) e forte o bastante para suportar o inflado ego do jovem pesquisador de inteligência hábil representado por Thiago França na segunda cena. Na estante, os livros de capa dura vermelha, levemente empoeirados, ajudavam a denunciar um clima que quase nos levava ao passado. E embora os textos ainda revelassem um linguajar longe dos nossos diálogos contemporâneos, havia no figurino o toque de mágica que nos lembrava a validade atual dos discursos representados: todos atores usavam tênis all-star branco. Brilhante sacada de Féo!


A trilha sonora preparada especificamente para a peça tem seu mérito no trabalho. Desde o som ambiente na entrada do público até as interferências sonoras durante o espetáculos, todas as músicas foram bem escolhidas e o tango de Piazolla caiu muitíssimo bem. Congratulações a Zé Manoel.


O espetáculo fica em cartaz todas as sextas, ás 20h, no Espaço Muda, até final de Julho. Vale a pena conferir!

terça-feira, 24 de maio de 2011



Eu aqui e essa vontade de beber o mundo
Ser os muitos que em mim habitam num corpo só

Quisera eu ter vinte pernas cinquenta braços
oitenta olhos e mais bocas e ouvidos
Ser no mar o poente do sol
Estar no céu, na luz do luar

Pisar terras
Norte
Sul
Estar concomitantemente
do Leste ao extremo-Oeste

...


Mas... e se eu, estando em todos
os lugares ao mesmo tempo,
não me encontrar onde eu
estiver?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Poetry - Poesia, um filme coreano


Poetry, ou Poesia na tradução para o Brasil, é um filme coreano vencedor como melhor argumento do Cannes 2010. Do diretor Lee Chang-dong, traz Yoon Jeong-hee no papel principal, o maior motivo para se surpreender com a película.

A história é de uma senhora, Mija, lá pelos seus sessenta e poucos anos, que se apaixona por poesia e começa a estudar para escrevê-las também. Descobre-se com Alzheimer e cuida de um neto adolescente, que com amigos da turma do colégio, é acusado de abuso de uma colega até o repentino suicídio da garota. O filme tem esse drama como fio condutor e encanta com a maneira de ver a vida que Mija demonstra: dosa uma certa praticidade em contraparte a um olhar róseo-poético.

A atuação de Yoon Jeong-hee como Mija é o que mais impressiona. Um olhar que, em certas cenas, bastam para muito dizer. São olhos que não apenas vêem, mas enxergam a essência das coisas, com expressões cheias de nuanças que denunciam novos sentidos à vida, às palavras.

Para quem não conhecia o cinema coreano, saí bem impressionado, inclusive com a fotografia do filme, contemplando o contraste de uma natureza com paisagens simples - porém belas - e a urbanidade construída pelo homem. Estradas, prédios e viadutos aparecem lado a lado com serras verdes, rios e árvores. Uma harmonia poética de imagens.

E assim também conheci um novo cinema, o espaço da Fundação Joaquim Nabuco, uma sala aconchegante. Com um café gostoso, em lugar e bebida. Frequentarei mais vezes.